Roda de Conversa: escola e família na primeira infância

9 de março , 2023

O que vai ficar marcado para o seu filho não é o que você fez. É como você fez.”

 

Na primeira Roda de Conversa de 2023, as famílias compareceram ao Quintal do João Menino para ouvir um convidado muito especial: o pediatra Antroposófico Antônio Carlos de Souza Aranha, mais conhecido apenas como Dr. Aranha. Médico de família formado pela pela Faculdade de Ciências Médicas Santa Casa de São Paulo, ele se especializou em medicina Antroposófica na Clínica Tobias, onde permaneceu como colaborador, e estagiou em clínicas suíças. É fundador da Associação Brasileira de Médicos Antroposóficos e Diretor-Docente do Instituto de Terapia Familiar de São Paulo.

 

Com a serenidade de quem além de pai também é avô, Aranha compartilhou aprendizados de quem acumula quase 50 anos de clínica e acolheu questionamentos e dúvidas das famílias presentes, que puderam vivenciar um momento precioso de partilha. A ideia principal do encontro era falar sobre o papel da escola durante a primeira infância, mas a conversa foi muito além, abordando questões comuns a todas as famílias dentro e fora da escola, como limites, rotina, culpa. Confira alguns dos melhores momentos:

O papel da escola

Antigamente as famílias tinham muitos filhos, por isso a convivência das crianças entre pares era intensa mesmo dentro de casa. Hoje a realidade é outra: as famílias têm um filho, dois no máximo – mais que isso já são consideradas numerosas. Por isso, a escola exerce uma função importantíssima: a socialização. A necessidade de socializar começa a despertar apenas por volta dos 3 anos de idade. A convivência com outras crianças é fator fundamental para o desenvolvimento uma vez que a educação acontece apenas no confronto com os iguais. Por mais dispostos que sejam os pais para a brincadeira, “adulto não consegue entrar na fantasia da criança”, como ressaltou o pediatra. 

As necessidades da criança no primeiro setênio

Para Aranha, as crianças precisam apenas de duas coisas durante os sete primeiros anos de vida: ritmo e exemplo. O primeiro pode estar presente de várias formas – desde a  rotina da casa, que deve ter estabelecidos os horários de alimentação, banho e sono, até a observação do ritmo interno de cada criança, intercalando momentos de contração e expansão. “Com a rotina, a criança fica tranquila e se sente acolhida”, explicou o pediatra. O segundo é autoexplicativo: tudo o que fazemos nossos filhos copiam. Crianças têm grande capacidade de imitação, por isso é tão importante que haja coerência entre nossas falas e ações. Com ritmo e exemplo, a criança cria a percepção de que o mundo é um lugar bom e acolhedor. É essa a principal noção a ser desenvolvida durante o primeiro setênio, para que, no futuro, como adulta, essa convicção a fortaleça em sua jornada e a faça acreditar que o mundo é um lugar que vale a pena.

 

Limites para as crianças, convicção para os responsáveis

Durante a roda, algumas famílias trouxeram questões sobre como estabelecer limites – seja atendo-se à rotina com tenacidade, seja na relação com parentes além do núcleo principal. Para o pediatra, para lidar com limites, basta que as famílias respondam a uma pergunta simples: “Você tem convicção de que está fazendo o que é melhor para o seu filho? Quando os adultos têm essa certeza, a criança fica tranquila e aceita”, explicou Aranha. Ele ressaltou ainda que é possível, por exemplo, manter a rotina de uma forma que seja mais leve do que autoritária – em vez de mandar a criança “já para o banho”, você pode convidá-la a ir cantando uma música ou deixá-la escolher um brinquedo para levar junto, por exemplo. E convidou os pais a deixarem a culpa de lado, valorizando sua intenção de cuidar, com amorosidade e zelo.