Vê quem vive

15 de fevereiro , 2019

“Dizem que existem lugares surreais. Eu sei que existem mesmo. Eu conheço um.

O que vi é um lugar muito parecido como os descritos nos contos infantis. É uma casa de aparência simples, no meio de um movimentado bairro de São Paulo. Muito discreta, nunca chama atenção dos passantes. Mas quando se passa portão adentro, na verdade um portal, imediatamente percebe-se que se entrou numa outra dimensão. Ou um mundo real isolado das tragédias humanas que se vive do lado de fora dos seus muros.

Conviver nesse lugar de aparências físicas pequenas e simplórias, mas de limites interiores infinitos das mais belas relações humanas, é um presente do cosmos somente para aqueles que conseguem enxergar esse lugar através do coração.

Aliás, o coração ali rege tudo, de maneira que os que estão do lado de fora do muro o descreveriam como mera utopia. Dentro, crianças nas suas mais puras e belas concepções parecem se amar de verdade. Brincam entre si. Não brigam. Todos são muito amigos, um dos outros. Se misturam, se agrupam… sem melindres ou ciúmes. Qualquer dupla, qualquer trio, qualquer grupo, qualquer coisa é uma combinação perfeita. Impossível não se emocionar muito ao vê-los juntos, em qualquer circunstância.

Mas esse lugar é tão diferente, que quando se sai dele, ele vai contigo onde você for. E tudo continua do lado de fora, desde que duas ou mais pessoas que o conhecem se encontrem.

Os adultos igualmente têm muito carinho entre si. Eles olham um aos outros nos olhos. Eles ouvem um aos outros pelo coração. Eles se sentem felizes em se verem, e se comunicarem com poucas ou muitas palavras, seja por alguns segundos ou por horas de bate papo.

Todo mundo é filho de todo mundo. Não existe criança mais especial ou mais legal. Todas são igualmente únicas.

Para quebrar um pouco o mistério, vou contar a verdade. É uma escola de educação infantil.  Abri a verdade pois tenho que falar das professoras. Elas com seus saiões longos, floridos e coloridos parecem as verdadeiras fadas madrinhas. Olhos de sabedoria, autoridade, atenção e amor. Veem tudo, sabem tudo, entendem tudo, e o mais impressionante… têm a solução para tudo. Elas leem as situações e as coisas na dimensão da alma. Levam tudo em consideração. Eu às vezes penso que queria ter tido uma professor como elas, mas se eu tivesse que escolher, mais importante seria mesmo que elas fossem professoras dos meus filhos.

Tudo parece fantasia, não é? Com certeza é… para os que não passaram ainda porta adentro. Mas quando o guardião Luminoso (brilhante, esclarecido, lúcido) abre o suposto singelo portão, sabe-se que está no mundo como este todo deveria ser.

A história cristã relata que o apóstolo João era um jovem… na verdade um menino, como diria minha avó. Talvez por isso tenha sido o único apóstolo que se arriscou a se aproximar de Jesus quando este estava ainda vivo pregado à cruz. Diz ainda que quando Jesus estava padecendo esses seus últimos minutos após angustiantes horas de humilhação moral e torturas físicas, sua mãe Maria se amargurava ao pé da cruz por tudo que se passava com o filho. Jesus no máximo de sua doutrina olha para João, praticamente um menino, e diz: “João esta é tua mãe”. E depois ele olha para Maria e diz: “Mãe, esse é teu filho”. E foi assim que João levou Maria para viver com ele e cuidou dela até sua morte.

Mas o que essa estória cristã tem a ver com esse lugar? O nome… Quintal do João, o Menino.

Ass.: Pai do Pedro, pai da Amelie.